Viajes y Canciones: Íconos del rock argentino

Foram poucas as vezes que viajei para o exterior. As duas únicas oportunidades em que peguei um avião no Brasil e aterrissei em outro país foram para o mesmo lugar: Buenos Aires, capital da Argentina. A primeira em julho de 2017, no inverno, e a segunda no final de 2023, no verão, por ocasião das festas de fim de ano. Das duas viagens guardo lembranças tão boas que já se tornou um destino favorito, um país que gostaria de retornar mais vezes e até de passar algum tempo maior por lá.

Quando viajo gosto de buscar algum tipo de imersão no lugar onde chego. Isso vai desde caminhar pelas ruas, utilizar o transporte coletivo, apreciar a gastronomia do local, mas um dos principais elementos imersivos pra mim é a música. Lembro quando fui ao Beto Carreiro World, em 2001, e aquele jingle do cowboy brasileiro amigo dos trapalhões era onipresente em todo canto, tal qual ocorre na Disney (de onde o parque de Penha, em Santa Catarina, copia se inspira).

Desde então imagino que os lugares deveriam ter caixas amplificadas executando músicas temáticas do local, como “Sampa”, do Caetano Veloso, na capital paulista. Na cidade do Rio de Janeiro podia ser “Corcovado”, do Tom Jobim, por causa das novelas do Manoel Carlos. Quando estive em João Pessoa botei Elba Ramalho, Zé Ramalho e Chico César pra ouvir. Em Recife, Alceu Valença e Chico Science tocavam em profusão na em playlists na plataforma de música. E fiz questão de ouvir Reginaldo Rossi enquanto dirigia pela estrada que leva o nome do cantor a caminho de Porto de Galinhas, em Pernambuco, só pra exemplificar.

Pois então, nesta ida para Buenos Aires fiz uma busca por playlists e cheguei nesta que mudou minha vida:

A descrição nos apresenta Los abanderados del rock argentino y sus himnos con Fito Paez. Para quem viveu a década de 1990 no Brasil e não o conhece, Fito Paez é o compositor da Track Track, gravada pelo Paralamas do Sucesso em 1991, e participou do Acústico MTV dos Titãs, em 1997, cantando Go Back em espanhol com o Sérgio Britto.

A playlist já começa com “El amor después del amor”, música homônima ao álbum de 1993, que se tornou o mais vendido da história da música na Argentina e virou argumento de série dramatizada da Netflix 30 anos depois com o nome Amor e Música: Fito Paez, da qual falarei em outra oportunidade. Desta playlist a canção que foi a porta de entrada para drogas mais pesadas foi Mariposa Tecknicolor, um tema animado com letra melancólica que fez muito sucesso nas arquibancadas da Argentina e de alguns lugares na América do Sul.

É provável que Fito seja o roqueiro argentino mais conhecido no Brasil, muito em razão de ter sua carreira ter crescido sob a tutela de André Midani, executivo brasileiro peso-pesado da WEA na América Latina, que impulsionou carreira de gente do quilate de João Gilberto, Jorge Ben, Elis Regina, Chico Buarque, Tim Maia e por aí vai.

Nessa playlist conheci Soda Stereo, possivelmente a maior banda de rock da América do Sul, que nós falantes da língua portuguesa tivemos pouquíssimo acesso. Quando uma canção deles estourou por aqui foi com Capital Inicial, numa versão bizarra da De Música Ligera que os malucos traduziram como “À sua maneira” (não vou colocar link para essa desgraça). Apesar de reconhecer a qualidade de Soda Stereo, foi a carreira solo de Gustavo Cerati que me chamou mais atenção. Cheguei até a ficar triste retroativamente pela morte dele em 2014 (tendo passado 4 anos em coma após um AVC).

Outras bandas/artistas que passaria horas falando e que dedicarei novas publicações são Luis Alberto Spineta, que surgiu no no final da década de 60 na Banda Almendra, posteriormente na banda Pescado Rabioso e teve uma carreira solo profícua de composições e poesias musicadas; Charly García, uma lenda do rock desde a década de 70, que fez parte da formação das bandas Sui Gêneres, Serú Giran, Maquina de Hacer Pajaros, além de uma carreira solo muito interessante. Tem a banda Vírus, contemporânea da Soda Stereo na década de 1980. E mais recentemente Andrés Calamaro, que tocou na Los Rodrigues e na Los Abuelos de Nada e hoje tem uma carreira solo bem sucedida na Espanha e na América Latina.

O que mais me surpreende – e até assusta – é o quanto passamos tanto tempo com pouco ou nenhum acesso à tanta música interessante. Meu recorte neste post é sobre o rock argentino, mas essa desconexão nossa com a cultura dos países vizinhos diz respeito ao fato de que um artista hispanohablante só faz sucesso aqui na colônia quando desponta nas paradas das metrópoles, especialmente dos EUA. A série Rompan Todo: A História do Rock na América Latina, também da Netflix, dá um bom panorama do tanto de trabalho bacana a gente deixou de conhecer em função da indústria musical daqui e que só a internet e as plataformas estão permitindo que a gente busque.

Quem conviveu comigo nas últimas semanas sabe o hiperfoco que estive inserido desde que voltei da viagem das férias. Minha sede de conhecer mais da música argentina me fez devorar um bocado de conteúdo que agora estou tendo oportunidade de compartilhar por aqui – decidi até voltar a estudar espanhol para ter mais acesso a informações sobre esse e outros temas, inclusive acadêmicos. Outra hora continuo essa conversa por aqui. Recomendo que ouçam a playlist e vão atrás das séries que indiquei na postagem. Tem muita coisa boa além de nossas fronteiras. Se gostar, dá uma comentadinha aí e me diz o que achou.


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